A transmissão psíquica transgeracional é um fenômeno observado pela psicanálise vincular, que se refere à transmissão de emoções, conflitos, fantasias, segredos e identificações inconscientes de uma geração para outra dentro de uma mesma família.
É um processo complexo que pode envolver diversos fatores, como a relação dos pais com seus próprios pais, como experiências de vida dos pais e a relação dos filhos com seus pais.
Segundo René Kaës (1996), um dos teóricos da psicanálise vincular, a transmissão psíquica transgeracional é um processo inconsciente, ou seja, muitas vezes as pessoas não estão cientes de que estão transmitindo essas emoções e conflitos para seus filhos e netos, podendo ocorrer por meio de gestos, atitudes, palavras ou até mesmo silêncios.
Talvez você esteja se perguntando se essa tal transmissão psíquica transgeracional tem algo de positivo, já que, pelo que aparenta, é algo ao qual somos submetidos sem que nossa vontade possa interferir, então deveria nos oferecer coisas boas também. Sim, se você pensou isso saiba que a transmissão psíquica transgeracional pode ser tanto positiva quanto negativa. Uma transmissão positiva pode ser a transmissão de valores, tradições e comportamentos saudáveis e adaptativos. Por outro lado, uma transmissão negativa pode ser a transmissão de conflitos, traumas, transtornos comportamentais e mentais, que não foram simbolizados e elaborados pelas gerações anteriores.
Terezinha Féres-Carneiro (2006), outra teórica da psicanálise vincular, destaca a importância de se compreender a transmissão psíquica transgeracional para entender a dinâmica familiar disfuncional a fim de intervir de forma terapêutica. Ela afirma que a transmissão psíquica transgeracional pode ser interrompida por meio de uma reflexão consciente sobre as emoções e comportamentos transmitidos, e da elaboração dos conflitos e emoções inconscientes.
Um dos meios empregados para obtermos um panorama das transmissões psíquicas transgeracionais é o genograma. Esta ferramenta é utilizada em terapia familiar para ajudar a mapear a história e as relações familiares ao longo das gerações. É uma espécie de árvore genealógica, que inclui informações sobre a estrutura familiar, eventos vivenciados, relacionamentos e comportamento dos membros da família. A partir do seu uso podemos enxergar com mais clareza os tipos de vínculos, os padrões de relacionamento e adoecimento que se repetem ao longo do tempo, tendo mais condições de propor intervenções clínicas que favoreçam a reflexão sobre comportamentos e emoções do presente que estão sendo influenciados por ações do passado familiar e transformar essas ações em oportunidades para a mudança e o bem estar da família.
Referências bibliográficas:
- FÉRES-CARNEIRO, T. Psicanálise vincular: o sujeito na relação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
- KAËS, R. Transmissão da vida psíquica entre gerações. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
Arte @lauraguerra.art – Família